Que venha tudo - mas reste meus amores, e meu bom humor.

quinta-feira, 3 de maio de 2012

Catarina, seu nome

Não posto há muito tempo. Minha culpa. Influência de culpa da minha faculdade. Me deixa sem vontade de escrever. Estranho, né?! Que uma faculdade de jornalismo tire a vontade de escrever dos alunos. Na verdade, não é tão estranho assim. Não é de se espantar que o método apague o artista. Dom, é dom, não necessita de regras, meus queridos. Agora vou voltar a escrever, quase sempre. Exercício. Li que faz bem, mantém qualquer escritor VIVO.

Aqui vai, exercício da faculdade, aula: "Construção de Narrativas". Eu gosto. Faz bem. Vou postar. Para quem? Também não sei.
Beijos, até.

Catarina, seu nome

Ela era apenas um pouco diferente das outras mulheres. Sonhava mais, mais alto e bem feito. Muito bonita, com princípios do bem e um gênio inesquecível. Catarina, seu nome. Tinha um coração bom, na verdade, muito mais do que isso, de diamantes. Nasceu em São Paulo, vive em São Paulo e deve morrer em São Paulo. Mas ela é feliz, sempre alegre, sempre capaz de revigorar sua alegria. A monotonia de uma única cidade não é capaz de atingi-la, como acontece com todo o resto da população. O tal sonho? Ser atriz. Contentava-se até muito em relação a sua condição de existência, mas quanto aos palcos, nunca aceitaria a derrota com facilidade. "Eu vou chegar lá, eu vou plantar a minha semente e colher o fruto que me pertence", pensava a destemida moça antes de se preparar para dormir todas as noites.
Era uma quarta-feira. Comum ao inverno paulistano, fria e com poluição beirando o ar que ela respirava. O telefone tocou no apartamento simplório da zona sul. Do outro lado da linha, Clarissa, pronta para dar a notícia. "Alô? Boa tarde, fulana! Meus sinceros parabéns! Você é uma das 300 finalistas do concurso 'Brilhe', da Rede Globo. Quando podemos marcar uma entrevista?", imaginava a telefonista, freneticamente. Seriam suas primeiras palavras realmente importantes desde a contratação como secretaria de um importante diretor da Globo. Mas Catarina não estava. Fora fazer as compras semanais, abastecer a geladeira, seus tios chegariam no fim da semana. Pobre garota, por uma única ação, boa e considerável, um único trajeto diferente, de questão de minutos, perdera o início de seus sonhos. Que mundo cruel, não? Nem ao menos ficaria ela sabendo da ligação, não havia bina em seu telefone. Eles não voltariam a entrar em contato, a lista de convocados era imensa e sem importância, na verdade. Tudo se tratava de marketing, um vencedor e muito dinheiro envolvidos em propagandas. O diretor pouco se importava com quem iria aparecer embaixo dos holofotes daquele espetáculo. Clarissa, a ingênua secretária, logo seria recompensada por uma voz emocionada do outro lado do telefone, que a faria esquecer das ligações sem resposta que aconteceram antes. Fim, tinha se acabado e ela nem ao menos teve a chance de se agarrar a ponta do tecido que lhe saia das mãos, sem nunca mesmo tê-lo encostado. De relance, sem querer, por querer. E sua rotina continuaria. Na sexta-feira iria receber os tios no principal aeroporto da cidade, em que milhões de sonhos vem e vão, num piscar de olhos, num vôo de avião. Iria passar pelo procedimento histérico ao qual denominou de trânsito caótico de São Paulo, com seu carro popular sem ar condicionado, e iria viver, sempre esperando, sempre com esperanças.
Determinada. Motivada. Levando o mundo adiante, não importando quais as condições e frustações que isto implicasse. Alguém conseguiria, mesmo se não ela, em outros dias, outras épocas. Um outro ser subiria naqueles palcos e ela se entristeceria, mas ainda teria esperança, seria provocada. Catarina, seu nome, uma boa alma capaz de fazer do mundo o famoso lugar onde se vale a pena viver, apesar, ainda. Sem mais.

Nenhum comentário:

Postar um comentário